" Para
 ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do 
espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos
 amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules 
ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e 
pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se 
engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é
 o que bons amigos fazem: perdoam.
Ser
 amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não 
entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei 
muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: 
"Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza". É 
uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as 
transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da
 vida e a tolerar suas dificuldades.
Amigar-se
 consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se 
você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal 
para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se 
chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou
 que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros
 e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o
 desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto "ser amigo de si mesmo".
Por
 fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro:
 pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, 
comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender 
discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é,
 fazendo a linha "sou rebelde porque o mundo quis assim". Sem essa. O 
mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus 
traumas de infância. Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um 
terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca 
haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos 
atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada 
menos que seu pior inimigo."
Martha Medeiros








