Tá
chovendo no meu quarto e, você sabe, às vezes eu fico um bocado menininha
nesses dias de chuva. Te arranhei um recado pouco antes, desenhei umas palavras
bem bobas só pra dizer o quanto te quero, te admiro, te quero bem. Tem vezes
que enjoo um pouco da nossa rotina, outras que a gente se estapeia, nos damos bem. A gente se conhece
no íntimo, a gente se reconhece nos suspiros, na troca de olhares, na mensagem
de texto. Nós nos entendemos num ponto, numa vírgula, num telefonema que falta
no meio da tarde, num bom dia amassado em voz de sono, num abraço de fica-aqui-só-mais-um-pouquinho. Eu estou feliz, sabe garoto? Tem quem diga
que felicidade muita, tem mais é que ser guardada a sete chaves, escondida do
mundo e da inveja. Mas acho que nós, depois de tanto, já
estamos vacinados contra os olhares dos outros, contra o mal-querer das pessoas
que só sabem é desdenhar a felicidade alheia porque não sabem como bordar
alegria às suas rotinas. Tiramos de letra, meu caro. Depois de muito apanhar, aprendemos a driblar a infelicidade, a mesmice. Aprendemos a colorir os dias
cinzas, a amanhecer cantando e dançando, a permitir a preguiça debaixo dos
lençóis, a repetir o mesmo cardápio todo dia, nem assim, cair na rotina. O fato é que tá chovendo manso no meu quarto e eu te desenhei
umas palavras bobas porque a felicidade – tal como a tristeza – quando é demais
também precisa transbordar. E eu transbordo entre sorrisos, e eu te aninho em
pensamento, te mimo, te guardo, te quero bem. Te quero muito bem. Nos quero
sempre bem.
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