31 de jul. de 2012


O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia para suprir vazios. 
Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. 
Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras e me dá escolhas. 
Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para que ele se instale.
O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso ignorar a delícia que sinto quando estou sozinha. E também não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda vontade de companhia.
O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. 
O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. 
O amor tirou de mim tudo que era falta.

(Marla de Queiroz)

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