19 de ago. de 2012



Querida vida, lhe escrevo por não suportar mais sozinha. 
Eu precisava mesmo desabafar, ninguém pode me ouvir. Não mais. 
Sigo sozinha por caminhos tortos desde que o seu amigo destino me separou de gente que eu queria que estivesse aqui até hoje. 
A junção de vocês é quase o meu fim. 
Levaram dos meus pensamentos pessoas que eu desejei pra sempre, e, aos poucos, trazem os que eu desejava perto. Querem me confundir, prevejo.
 Mas eu prometi não desistir, e não o farei. 
Não sou um poço de coragem, mas suponho que posso alcançar o que quiser se eu realmente o querer. 
Eu arrisquei tudo por mim, arriscaria novamente se necessário.
 Foi tudo muito rápido, e hoje me reergui. 
De uns tempos pra cá, eu precisava de novidades e fiz de tudo para que, sozinha, eu mudasse o meu status e conseguisse ser feliz de novo. 
Bateu saudade, mas nada me faria voltar ao meu tempo de solidão. Então, levantei em um dia qualquer pronta pra me aventurar nos meus pensamentos profundos. Busquei dentro de mim fórmulas pra ver o amanhã como forma de motivação. Não passa mais pela minha cabeça a ideia de desistir de tudo que conquistei. Mesmo que não seja muito, tudo, foi fruto do meu esforço. Poucos sabem o quanto foi difícil. Mas no fim, eu posso dizer contente que fui eu quem consegui. Chega de enrolação. Não perderei mais tempo falando de passado. Meu futuro não está traçado, e com os dias será desenhado no livro de minha vida. Não importo de permanecer sozinha, tenho minha suficiência. Não é orgulho, é vontade de ser feliz sem incomodar ninguém. Preferi cair em um mundo cheio de sorrisos verdadeiro.
 Estou indo embora, peço desculpa a ti. Mudei. Mudei pra longe. Não me procure, passado. Já não pertenço a ti. Mudei, repito. Agora, pertenço somente ao futuro.

15 de ago. de 2012



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

13 de ago. de 2012


Confesso que já tive dores insuportáveis em meu peito, aquelas que te fazem chorar feito criança desesperada por perder seu brinquedo favorito. 
Mas a alma se lava e logo depois tudo fica bem. 
Você se acostuma a passar por isso e parece até já saber a ordem.
 Mas, por uma esperança, você nunca deixa de tentar. Não é a questão de “quem sabe um dia dê certo toda essa busca”, mas sim a certeza de que você vai encontrar.
Você vai se descobrindo, se encontrando, vendo que você seria capaz de fazer tantas coisas das quais nem sua coragem sabia. Então por que se sentir um fracassado? Eu não tive medo de buscar. Aliás o medo nunca foi meu companheiro em relação a isso. Não existe meio termo, gosto da certeza de onde eu possa me sentir seguro. Mas agora se foi, e eu geralmente não volto atrás.
Por que insistir em algo que eu nunca tive respostas?
 Foram perdidos muitos momentos que poderiam ter sido únicos, muitas oportunidades de estarmos juntos, muitas palavras que foram caladas pelos seus gritos. 
Eu vou viver com a minha certeza de que o meu melhor estava aqui pra você. 
 Mas por sua constante insistência no banal, você nunca viu e talvez nem mesmo acreditou.
 Não é um lamento é apenas a minha verdade que você nunca parou pra ouvir.

1 de ago. de 2012



É que a gente gosta de celebrar o amor todo dia, sem data. 
 A gente gosta é dos abraços sem aviso, dos encontros sem horário, dos beijos que nos faz dar risada, e também dos que damos entre risos. Coisas assim, bem a nossa cara. 
A gente nem sabe direito o dia que tudo começou, a gente só sabe que é amor. 
Que parece sempre novo e faz a gente querer continuar suspirando de alegria. E você também é boa companhia, mesmo triste, mesmo preto e branco porque pra mim você sempre tem cor. 
É que o maior motivo da gente se encontrar foi pra descobrir o amor em outras formas.
 E que amar tem tantos significados que até me perco. Mas você me acha, sempre.
E amar talvez seja outra coisa. Uma mistura de pé no chão e cabeça no teu peito.
É você ir embora mas deixar tudo comigo. Olhos, cheiro, mão, palavra, riso... 
Quero ficar presa dentro do teu abraço por muito tempo. Esse sentir-se livre estando presa. É que teu abraço serve de curativo pras dores todas. 
É o jeito mais fácil do meu coração alcançar o teu.
 Um amor que vai além de dividir problemas ou riso. Não cabe, não tem nome. Ele é. 
Que a gente continue com essa sintonia que só a gente tem e com uma alegria com cara de sexta-feira-feliz. 
Que é uma das coisas mais bonitas e que quero guardar pra sempre.Sempre. E cuidar do amor.
E sei que coração é coisa pesada pra se dar. Sei também que ele me pertence. Mas mesmo assim quero dá-lo a você!

É suave amar você. 
De uma forma que eu jamais compreenderei. 
De um modo que talvez a ciência ou até mesmo a religião nunca consiga explicar. 
Porque simplesmente você existe aqui dentro de mim [enraizado]. 
E sim, eu perdi a mão para escrever sobre você. Sobre nós.
 É que eu não preciso embonitar nada mais. 
Porque o bonito de tudo que envolve a gente, hoje, tem que ser selado. Guardado. Sacramentado. 
Para continuar bonito.